Um dia para celebrar a democracia

Um dia para celebrar a democracia

“Choram Marias e Clarices…” (João Bosco e Aldir Blanc em O bêbado e a equilibrista)

No dia 25 de outubro, há 45 anos, morria o jornalista Vladimir Herzog, assassinado pela ditadura militar. Estava sob a custódia do Estado, mais precisamente no quartel-general do II Exército, em São Paulo, quando foi torturado e morto.

Era um pacifista e se apresentou espontaneamente ao quartel para “prestar esclarecimentos”. Saiu de lá num caixão e provocou o surgimento de uma farsa. Torturadores do DOI-CODI, siglas que representam a essência perversa do regime, criaram a versão do suicídio, divulgando uma foto onde Herzog aparecia enforcado com a própria gravata.

Por inverossímil, a narrativa foi imediatamente rechaçada e, mesmo sob a fúria da ditadura, começaram os protestos. E de diversas formas. O mais emblemático foi um culto ecumênico realizado -seis dias após o crime- na Catedral da Sé, também na capital paulista. Coordenada pelo arcebispo Dom Paulo Evaristo Arns, a iniciativa juntou gente de todos os segmentos civis e religiosos do País. A catedral ficou pequena e mais de oito mil pessoas ocuparam a Praça da Sé. Foi o primeiro grande ato público contra a ditadura desde a edição do AI-5, em dezembro de 1968. O regime sentiu o “golpe”. Ainda levaria anos para acabar, mas já ali se via o que o país não queria.

É importante, apesar de triste, relembrar datas assim. No momento, o país vive um momento de turbulências. Muitos no Executivo criticam a democracia e querem calar os outros poderes. É um jogo de confrontos e recuos, sístole e diástole. Confronto, para averiguar eventual apoio à supressão das liberdades democráticas. Recuo, como estratégia para não enfrentar a opinião pública, amplamente favorável ao estado de direito.

No exercício do poder, eles testam os limites. Seja quando um general estimula a arapongagem internacional e se julga no direito de classificar quem é bom ou mau brasileiro – num desserviço ao país – seja apoiando motins ilegais e violentos que acabam prejudicando e matando os mais pobres e jovens.

Resgatar a história de homens com Herzog é didático. Exemplifica e faz lembrar o que um estado ditatorial é capaz de fazer. Lembrar Herzog é não esquecer o passado. O jornalista morreu com apenas 37 anos. Deixou uma legião de amigos, dois filhos e Clarice, a esposa. A democracia vive com o exemplo de Vladimir Herzog. Mas é ameaçada às vezes por facínoras, covardes e assassinos. A democracia é sempre melhor.